segunda-feira, 17 de agosto de 2009

COMO CONSTRUIR A NAÇÃO BRASILEIRA - Luiz Oswaldo Norris Aranha

COMO CONSTRUIR A NAÇÃO BRASILEIRA

O primeiro passo para que se faça a construção é reconhecer que o Brasil ainda não é uma Nação, no sentido mais completo do termo. É país com grande extensão territorial, não possui divisões acentuadas entre os seus cidadãos (embora recentemente tenha-se aberto grande ferida política), tem identidade cultural e não apresenta cismas raciais, porém o povo não entende o que é participar de modo integrado em prol do Desenvolvimento Nacional. O individualismo impera e não há espírito cívico. A partir desse entendimento é possível reunir as vantagens e vencer os óbices, buscando encontrar os caminhos mais sólidos para que a Nação Brasileira se constitua de modo igualitário, eliminando-se a grande injustiça social que impede a união.

O principal óbice é cultural. É por demais difícil incutir em pessoa com poucas luzes que existe uma entidade maior que é a Nação. Seu sentido é abstrato e só se materializa em casos de grandes ameaças, como as guerras, o que se espera não ocorram envolvendo o Brasil e parecem não estar próximas. Exige-se trabalho meticuloso, partindo do ensino do civismo nas escolas e passando pelo engajamento dos grupos sociais maduros, que possam transferir para seus concidadãos as noções básicas para que eles desejem participar. Destacam-se entre os grupos sociais as associações de classe, em especial as que reúnem profissionais de nível superior, como a Ordem dos Advogados, a Associação Brasileira de Imprensa e o Clube de Engenharia.

A construção desse engajamento popular não pode seguir os desastrosos exemplos do fascismo, criando imagens atraentes, porém mistificadoras. É preciso partir das bases, com a participação do povo, construindo as metas desejáveis para o Desenvolvimento. Infelizmente o Congresso Nacional, que deveria traduzir os anseios populares em ações políticas, desligou-se do interesse nacional e voltou-se para o gerenciamento de vantagens individuais. Cabe, portanto, construir outro caminho representativo da Sociedade Civil e este já atuou no passado, tendo apenas perdido muito de sua força, diante do crescimento do individualismo. São as entidades representativas dos grupos sociais, sejam de ordem comunitária, profissional ou de outra ordem.

Para construir a nacionalidade, não cabe instalar fórum especialmente dedicado. Salienta-se a ação das entidades e dos indivíduos, debatendo e propagando idéias. Os cidadãos menos conscientes ficarão submetidos a esse embate público e absorverão as propostas. Há que se instalar a base nas escolas, universalizando a educação e incorporando as principais noções de civismo. Sobre isto é fundamental elaborar as propostas, por parte daqueles que já tiveram a oportunidade de receber a base cultural necessária. Deve-se aproveitar o desejo generalizado de progredir, que se revela pela ascensão social que se realiza espontaneamente, bem como enfrentar os demais óbices de ordem econômica e política que, porém, não são tão grandes assim.

Fator da mais alta relevância é cotejar as condições sociais do Mundo em geral, com suas nuances especializadas e competitivas. Lembre-se que os engenheiros, agrônomos e arquitetos participam da maioria do processo de Desenvolvimento e incorporam o conteúdo especializado. A atuação dessas classes é essencial na formulação de propostas para o futuro do Brasil e para a sua propagação junto ao público em geral. Nas últimas décadas dispersaram-se, seja pela maior difusão em território brasileiro de tecnologias importadas, seja pela menor valorização profissional e consequente redução dos salários. Com isto deu-se o afastamento da discussão das questões nacionais e, ao lado das demais categorias, permitiram que o processo enfraquecesse.

A atuação individual ainda existe, por parte de alguns profissionais. Mas é necessário enfatizar o coletivo, pelas associações de classe. Pouco tempo atrás, as entidades profissionais se manifestavam – e os alicerces da República balançavam – em questões como a atual crise do Senado. Em termos de planejar e propor um Projeto Nacional destaca-se o Clube de Engenharia, que vem se mantendo mudo nos últimos anos. Esta entidade foi fundamental na construção das regras que passaram a defender a tecnologia brasileira e que hoje estão empoeiradas, por esquecidas nas prateleiras. Cabe recuperar essa atuação e os profissionais de todas as categorias precisam agir, além de pressionar os dirigentes das associações de classe, para se posicionarem.

Luiz Oswaldo Norris Aranha

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